14/05/2020

Texto sem poesia, para dias sem poesia...

“Olá. Tudo bem?”

A pergunta feita por educação, na maioria das vezes, retém o grito na garganta...
Como pode estar tudo bem com tanta tristeza, tanta desesperança, tanta fome e medo empesteando o nosso já tão impuro ar?

Assim como a morte, que sempre esteve à espreita, mas que atualmente resolveu “matar em série”, a natureza parece querer se vingar de tanta atrocidade cometida contra ela... e, aliada à dona morte, tem escolhido a esmo as suas vítimas...

Não. Não é possível estar “tudo bem”...

Mas, à pergunta educada, a boca geralmente responde com um “Tudo bem”... quando, na verdade, gostaria de responder:
Estou sobrevivendo...
Sobrevivendo à dor,
Sobrevivendo ao medo...

Enquanto, lá no peito, a gente segue acalentando a tênue esperança de dias melhores...

 

Jade Campobello

- meu pseudônimo para textos com ou sem poesia -

 

(Quarentena – Coronavírus – COVID19... Já não conto mais os dias)


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17/04/2020

De repente...

De repente, parece que fui jogada ao mar, num barco pequeno, e sozinha!

Há outros barcos nesse mar... e outras pessoas sozinhas também...

Mas não adianta gritar. Poucos ouviriam e esses poucos, talvez, sequer conseguissem entender...

Pois todos estão à deriva, tendo que lidar com a sua própria dor...

e sem saber qual rumo tomar...

 

Jade Campobello / Janethe Fontes

 

(Em um dia de Quarentena – Coronavírus – COVID19)

24/03/2020

Pela janela...

Passarinho na janela… | Revista Partes


Pela janela da minha casa, vejo um lindo passarinho cantando alegremente e tenho vontade de gritar:

Ei! Pare com isso! Não percebe quanta tristeza à sua volta?

Não percebe quantas pessoas estão desesperadas sem saber o que será de suas vidas, amanhã?

Mas, instantes depois, com os olhos encharcados d´água, eu o observo novamente e sussurro:

Isso! Cante. Cante muito! E traga alegria para esses dias tão incertos...

 

Jade Campobello

(meu pseudônimo para textos com ou sem poesia)

 

(24/03/20 – Quarentena – Coronavírus – COVID19)


25/01/2020

Sobre Amizades Abusivas: Cuidado!


Como já passei por algo parecido, resolvi compartilhar aqui o texto da Ju Lopes:

Cada vez mais a gente fala sobre relacionamentos abusivos, mas o foco, quase sempre, são os amorosos, quando, na verdade, qualquer tipo de relação pode ser abusiva. Sim, existem familiares abusivos, colegas de trabalho abusivos e, também, amizades abusivas.

E é sobre amizades abusivas que quero falar hoje, já que, a essa altura do campeonato, não era algo que eu imaginasse que pudesse viver.

Vivi esse tipo de situação quando era mais nova, de maneira muito mais branda,  e mesmo assim demorei anos pra entender e me recuperar, porque, não se engane, quanto mais sutil é a coisa, mais demora pra que a gente caia na real. E maior é o estrago.

Eu conhecia exatamente os “sinais”.Tinha absoluta consciência da importância de escolher criteriosamente com quais pessoas dividir a minha vida, porque amigo, pra mim, é sagrado. Amigo é a família que realmente importa, é companheiro, parceiro de vida.

E, ainda sim, de alguma forma que não consigo compreender, eu não vi, não percebi e sucumbi.
Porque a coisa é muito, mas muito sutil…

A pessoa parece realmente gostar e se preocupar com você. E por achar que é preocupação, que ela quer o seu melhor, você começa a absorver as “observações” feitas constantemente, sempre focadas no que “está faltando”, no que você “precisa melhorar”, porque nada é bom o bastante.

Você não é bom o bastante.

E não importa quantas coisas incríveis você faça, quantas pessoas reconheçam o seu valor, a sua capacidade ou qualquer outra coisa, ela sempre vai, sutilmente, minimizar, desmerecer,  desvalorizar.

E depois de um tempo, sobretudo quando trata-se de alguém que você admira, você começa a acreditar. Acredita que não está à altura, que não é bom o bastante, que não é capaz… E passa a se anular.

Quando chega nesse ponto, minha amiga, sua insegurança já está no topo, a autoestima no chão e você, cheia de dúvidas e medos, simplesmente para de acreditar em si mesma.

Mas não para por aí…

Sabe as suas conquistas? Parecem não existir. Sabe a tua vida, as tuas histórias? Ela não tem o menor interesse. Sabe as tuas dores, aquelas que te despedaçam? São invisíveis pra ela, que sempre está ali falando e descarregando em você todos os problemas do mundo.



O que você faz? Escuta, pontua, apoia, porque amigo é, também, pra isso, né? E como acha que ela é sua amiga, e faz parte do pacote entender as limitações do outro, se engana dizendo que é falta de tempo, e se recusa a enxergar.

Porque enxergar significa assumir a responsabilidade por tudo isso, por ter permitido que isso acontecesse. Por ter sido fraco.

Eu já tinha entendido, meses atrás, o quanto aquela pessoa me fazia mal, o quanto aquilo era tóxico. A minha intuição, aliás, gritava enlouquecidamente, mas só consegui colocar um ponto final quando, já esgotada emocionalmente, ouvi mais uma vez as coisas de sempre e tive uma crise no meio da rua.
Sabe quando você não consegue respirar? Quando você chora de soluçar até, literalmente, cansar? Foi isso. E só aí consegui me afastar, sobretudo emocionalmente.

No entanto,  ainda questiono, como num post que escrevi aqui: que droga de carência é essa que faz com que a gente finja não perceber determinadas coisas, sabe? O que é isso que faz com que a gente aceite menos, muito menos, do que dá? Que medo é esse que nos faz manter na vida, como protagonistas, aqueles que sequer deveriam estar por lá?

E me pergunto como, logo eu, tão firme pra tantas coisas, tão da turma do “comigo não”, que não aceito ter o espaço invadido, o tom de voz alterado, que não negocio respeito, me deixei levar…

Ainda não tenho a resposta, mas estou buscando-a, pra aprender de vez a lição.


Fonte: Juro Valendo.

25/01/2019

As mulheres independentes são fortes e não se escondem à sombra de ninguém!



As mulheres fortes independentes não aceitam ser controladas, porque sabem o seu valor e querem pessoas que as respeitem ao seu lado.

As mulheres independentes são diferentes. Elas têm sua própria identidade, não aceitam se esconder à sombra de ninguém e lutam todos os dias por seus objetivos de vida. Não são todas pessoas que conseguem ter mulheres assim ao seu lado, principalmente em um relacionamento romântico.

Por muito tempo, as mulheres foram ensinadas a se submeterem aos desejos de outras pessoas, e essa “regra” por muitos anos limitou as vidas de muitas de nós, que se viram obrigadas a abandonar os seus sonhos e autenticidade. De fato, por muito tempo as mulheres tiveram que fingir se sentirem confortáveis com vidas medianas, quando na verdade sabiam que tinham tudo o que era preciso para conquistarem sua felicidade por conta própria.

Hoje em dia as coisas estão diferentes e estamos caminhando para uma mudança. Temos mais espaço para nos expressarmos verdadeiramente, exigir nossos direitos e escolher nossa felicidade acima de qualquer coisa. Muitas coisas ainda precisam mudar, mas grandes conquistas já foram feitas.

Agora, temos a escolha de não depender apenas de nós mesmas para termos nossas coisas e realizarmos nossos sonhos. Salvo casos particulares, nós escolhemos sozinhas as pessoas com as quais queremos viver nossas vidas, e o fazemos por amor. Além disso, a sociedade está mais aberta a apoiar as mulheres, o que muito contribui para aumentarmos nossa autoconfiança, senso de liberdade e independência.

Cada vez mais as mulheres estão despertando sua luz interna e nutrindo sua essência, tornando-se as únicas mestras de suas vidas.

Essas mulheres são esclarecidas, motivadas em sua jornada, educadas e respeitosas consigo mesmas, definindo limites saudáveis e escolhendo, com cuidado, quem querem em suas vidas.

As mulheres fortes e independentes sabem que uma relação, seja romântica, familiar ou social, só vale a pena se for sustentada pelo amor e que nada compra a sua liberdade e felicidade.

As mulheres fortes e independentes não aceitam ser controladas porque sabem o seu valor, e querem pessoas que as respeitem ao seu lado.

Os parceiros sábios que valorizam as mulheres independentes ao seu lado são grandes exemplos de amor verdadeiro, altruísmo e respeito. Eles mostram o que o verdadeiro amor é, permitir que a outra pessoa cresça e conquiste seus próprios sonhos, sem se sentirem ameaçados ou inferiorizados.

As mulheres já foram magoadas antes, mas amadureceram e aprenderam a se colocar em primeiro lugar. Como consequência, seus relacionamentos melhoraram. Elas sabem que o amor é construído todos os dias por duas pessoas comprometidas e que não há espaço para egoísmo e orgulho em relacionamentos verdadeiros.

As mulheres independentes são fortes, e isso não é para qualquer um.


Autoria: Luiza Fletcher

(Fonte: O Segredo )

17/01/2019

Superação!


Olá, Pessoal!

Puxa! Faz um tempão que não apareço por aqui, né?

Mas, conforme já expliquei algumas vezes neste blogue, como tenho várias redes socias, às vezes, fica bastante complicado “atualizar” todas essas redes com frequência... Eu bem que tento. Mas sabe como é? A gente precisa estabelecer prioridades... E, no caso, eu acabo priorizando o Facebook, já que, através do meu celular, eu consigo postar sobre qualquer assunto muito fácil e rapidamente em vários perfis e páginas. Por isso, se quiser me encontrar mesmo, é só me seguir aqui: https://www.facebook.com/janethefontessuleiman. 😉

Contudo, a grande verdade é que eu andei “dando um tempinho” em todas as minhas redes sociais, por vários motivos... os quais eu vinha ensaiando, há quase duas semanas, para “falar” deles aqui. Mas me faltava “coragem” (não encontrei termo melhor)... pois não sou do tipo que gosta de ficar falando da própria vida... Não é que eu não queira desabafar de vez em quando, é que trava mesmo! E quanto maior for o problema, mais eu me “fecho”. Não me pergunte o por quê disso, pois eu, realmente, não sei. Talvez seja defeito de fábrica! Sei lá!

Por isso, talvez, as pessoas me achem tão forte... Pois parece que eu nunca tenho problemas, né? Ou que eu supero tudo de forma muito fácil... Só que não é bem assim, não... Quem dera!

Mas vamos lá (Solta o ar e mete a cara, Jan! (rs))...

Os últimos cinco anos foram muito (in)tensos para mim, sobretudo o último triênio. Muitas vezes, eu me senti despencando ladeira abaixo... sendo que eu lutava o máximo que podia para frear aquilo, mas parecia que quanto mais eu lutava, mais acelerava a queda... Continuei lutando por pura “teimosia” (sou sagitariana, né?), mas confesso que houve um momento que eu realmente cansei de lutar... de forma que quando eu cheguei ao final do meu “desfiladeiro pessoal”, eu tive vontade de ficar ali mesmo, caída naquele solo duro, à espera de uma “salvação”... Mas no fundo eu sabia que a única pessoa que poderia me “salvar” era eu mesma. O problema é que eu mal tinha tempo para refletir e uma nova avalanche de problemas vinha e me pegava “de jeito”... ou melhor, sem jeito... e, muitas vezes, eu me vi literalmente sem chão!

De fato, tantas coisas aconteceram entre os anos de 2016 a 2018 que, por mais que eu quisesse, seria bem difícil relatar...

Resumidamente: 2016 foi um ano de fortes crises, sobretudo financeira e familiar. Crises essas que se agravaram em 2017, que foi, também, um ano de descobertas... de mudanças... e de rompimento... Foi justamente no final de março de 2017 que eu me separei de alguém que, por duas décadas, foi, e ainda é (não é porque nós nos separamos que isso irá mudar), especial para mim. Mas eu não estava feliz (nós não estávamos felizes) e eu sentia que, independentemente do quanto aquela decisão doesse, eu precisava “partir”... seguir meu caminho... Foi algo necessário, mas foi difícil. E confesso que, muitas vezes, eu me senti imensamente só.

2018 também foi um ano de duras descobertas (uma dessas “descobertas” me deixou muito arrasada)... de mudanças... e de novos rompimentos... e também de muito aprendizado e de autoconhecimento. Não foi por acaso esse “aprendizado”. Logo no início de 2018, eu decidi que ia mudar aquilo tudo... Aquele seria o ano da minha virada, eu disse a mim mesma no dia 1º de janeiro. E fui atrás de informações, de livros e tudo o que pudesse me ajudar... Passei quase doze meses mergulhada em estudos sobre física quântica, lei da atração, PNL e afins... E todas essas coisas me ajudaram sim, e muito, pois me trouxeram muito entendimento. Mas em meados de novembro, a vida me deu um novo golpe, um golpe tão forte que eu precisei reunir toda a minha força para não sucumbir. Mas como nada é para sempre, nem mesmo os nossos problemas, em dezembro, eu consegui, finalmente, encontrar equilíbrio em mim mesma.

Enfim, a limpeza que sofri nesses últimos anos foi forte... e doeu bastante. Mas eu acho que precisei passar por tudo aquilo, para aprender a valorizar um monte de coisas que eu nunca havia valorizado de verdade... E hoje eu sou muito grata por isso!

Mas por que eu estou falando de tudo isso agora? Bem, por 2 bons motivos:
1º, porque, apesar de tudo o que aconteceu, eu tenho vários motivos para agradecer, sobretudo pelo autoconhecimento. Sinceramente, acho que nunca me entendi, me aceitei e me amei tanto como agora, com todas as minhas luzes e sombras. E olha que sempre “preguei” o amor-próprio e o empoderamento. Mas a verdade é que eu nunca havia me aprofundado devidamente em mim mesma! Vivia em “piloto-automático” há muito tempo. E ao mergulhar em meu “eu interior”, eu, realmente, me “redescobri”... e me reconectei à minha fonte! De forma que eu me sinto agora verdadeiramente mais forte, mais determinada, persistente, ousada(?) e confiante para alcançar meus objetivos;

2º, porque eu realmente acho que 2019 será muito especial para mim... um ano de colheitas. Afinal, como diz um velho ditado: Depois da tempestade, vem a bonança! Então, que venha a bonança!!

E tem um detalhe muito importante: 2019 é ano 3 (2+0+1+9= 12 => 1+2=3). E, segundo os “místicos”, dentro da chave 3, encontramos: arte, criatividade e leveza. O número três comporta todas as coisas ligadas ao amor e a criação! E este é o meu número, Gente! (rsrs) Pois sou nascida em 03 de dezembro (mês 12) e o meu negócio, vocês sabem, é fazer arte... (rs) é escrever. Não é sensacional isso?

Aproveito para agradecer a todos os meus leitores e seguidores por estarem sempre aqui comigo. Obrigada mesmo, Gente! Vocês não imaginam o quanto são importantes para mim!

Aproveito, também, para lhes desejar um 2019 super-hiper-mega SENSACIONAL!


Beijos a todos!

13/06/2017

Felicidade (?)

Por Janethe Fontes


O assunto é pertinente, porque, de uns tempos para cá, parece reinar a ditadura da felicidade, onde temos de parecer felizes o tempo inteiro, como se a felicidade fosse um estado permanente da alma. É como se não houvesse dor, ansiedade, medo ou quaisquer outros sentimentos tão comuns à alma humana.

O mundo me assombra e intriga
E eu fico perplexa ante a vida:
Nascer!... Viver!... Existir!... Morrer!...

E não importa o grau de dor, ansiedade ou inquietação que você esteja vivenciando, é preciso sempre apresentar uma aura cintilante, emanar alegria, para não infectar os outros com suas chatices e melancolias. É proibido não ser feliz. É proibido ficar triste. Por isso, sorria. Sorria sempre. Sorria mesmo quando a dor ou inquietação contorcer suas entranhas sem dó ou piedade. Afinal, ninguém deve saber do seu real estado de espírito, não é mesmo? A platéia espera por seu espetáculo, a platéia cobra que você seja feliz. A família, os amigos, a sociedade em geral e até você mesmo cobra isso. É a ditadura da “felicidade permanente”, cujo princípio ignora por completo que o sofrimento é um dos canais para o crescimento espiritual.

Tenho momentos longos de fadiga
Ao pressentir no coração uma ferida
De tanto perquirir a razão do meu viver.

Mas o pior é que na ilusão de que é possível atingir esse estado permanente de felicidade, muitos mergulham num poço cada vez mais fundo de depressão, pois não compreendem que toda essa ansiedade por ser feliz a qualquer custo, de qualquer forma, apenas as afasta do que é verdadeiro, do que é real, e elas não conseguem desfrutar de pequenas coisas, mas que trazem verdadeira alegria.

Além disso, o desespero em fugir à dor, à realidade da vida, pode acarretar até mesmo em suicídio, explica o psicólogo americano Steven Hayes em entrevista à revista Veja: “Muitos suicídios são um último esforço para acabar com a própria dor. Em seis de cada dez casos os suicidas deixam escrito, em bilhetes, que não agüentavam mais sofrer. Há uma mensagem nisso tudo: evitar os sentimentos dolorosos é rejeitar a própria vida. Aceitá-los como parte da existência é a melhor atitude.”

Viver como eu vivo, como nós vivermos,
Tendo dias de sol, de chuvas e trovoadas,
De risos, lágrimas e sofrimento...

"As artimanhas que usamos para escapar da aflição nos desviam de nossos objetivos de vida. E é por eles que vale a pena viver", diz ainda o psicólogo Steven Hayes.



Nota: Poesia de Neuza Rodrigues Leonel - Livro Vozes do Coração.

Obs. Final: Artigo postado no blogue Palavreando, em 30/09/06:


09/06/2017

Melancolia

Por Janethe Fontes

 [Mélancholie - Arte de J. J. Henner 1829-1905]



Às vezes me bate uma melancolia... E ela me assola repentinamente... E me faz pensar em tudo: na vida, na minha profissão, nos sonhos ainda não realizados... nas lutas diárias... no sentido da vida... nas pessoas em geral... no sofrimento... Enfim, um mutirão de coisas me angustiam em certos momentos. [Janethe Fontes]

É nessa hora vazia
que lenta agonia
Me vem visitar...

Na Antiguidade, a Teoria Humoral, teoria médica vigente na época, que teve seus princípios herdados dos pitagóricos por Hipócrates, o comportamento e funcionamento do corpo humano era explicado pela existência de quatro humores, o sangue, o fleuma, a bile amarela e a bile negra. Cada um destes humores, no sentido do significado primitivo da palavra, como líquido, e não como disposição de espírito, como a usamos atualmente, correspondia a uma estação do ano, a uma etapa da vida humana, a uma natureza da matéria, a saber: terra, água, fogo e éter ou ar, e assim por diante. O equilíbrio destes quatro configurava a boa saúde, tanto física quanto mental, e suas perturbações eram sentidas pelo seu portador. Regulava-se a saúde pela aplicação do contrário àquilo que estava em demasia, ou seja, combate-se o frio pelo calor e a sequidão pela umidade. Aristóteles, bem como seus contemporâneos e a quase totalidade dos cientistas e estudiosos de medicina até quase a modernidade, acreditava que um dos humores preponderava no temperamento das pessoas, e as influenciava determinantemente. Os melancólicos eram dominados pela bile negra, donde vem o nome desta afecção, melas, negro, e chole, bile. Este humor tem, em sua natureza volátil, a propriedade de causar em seus portadores um comportamento semelhante ao vento de que é composta, ou seja, uma constante inconstância, que não seria desígnio de doença, como naqueles que ela apenas ataca esporadicamente, os deprimidos, e sim por natureza. Esta volubilidade é o que desencadeia a alternância entre os estados passivos e ativos dos melancólicos, entre a inatividade desinteressada, o isolamento dos obscuros, a tristeza sem razão e a aparência sombria e a atividade convulsa, o envolver-se impetuosamente nas mais difíceis e gloriosas empreitadas, o furor criativo e a dedicação compulsiva a algum afazer que os caracteriza como pessoas de exceção, gênios de excelência naquilo a que se dedicam.

Durante a Idade Média a melancolia não é vista somente como desequilíbrio dos humores corporais, mas também como influência maléfica do mais distante dos planetas conhecidos até então, o mais antigo e desgraçado dos deuses do panteão clássico: Saturno. Estes conceitos chegam até a Baixa Idade Média através dos estudos astronômicos dos árabes, que começam a conquistar a Europa através da Península Ibérica, levando não apenas armas, mas também cultura e ciência. A identificação de Saturno com a inconstância melancólica se dá através dos paralelos traçáveis desta com a história do deus dentro da mitologia, ele ora é o senhor de todos os deuses, ora o deus desterrado, exilado e humilhado, a um só tempo pai de todos e deus castrado, impotente. Também seu correspondente na mitologia grega: Cronos, o senhor do tempo, ajuda neste processo. Ele é o deus do tempo, da consumição de tudo o que cria, devora seus filhos, presentifica o não-ser sendo a causa da morte inexorável, evidenciando a vacuidade de toda obra humana, demonstrando que o orgulho de nossa racionalidade não passa da maior das vaidades, e nada vale, pois somos apenas pó, estamos fadados à morte assim como tudo o que existe está condenado a não existir mais, é apenas questão de tempo.

A melancolia, em seu estado inativo, é vista pejorativamente, enquanto é identificada com a preguiça, que é pecado capital e vista por alguns como o maior de todos os pecados. A capacidade de criação que ela inculca em seus portadores não é valorizada porque, nesta época, a arte não tem valor estético, mas apenas utilitário, o artista não passa de um canal da manifestação da graça divina, ele é inspirado, e sua obra não precisa ser bela, do ponto de vista da forma, e sim útil quanto ao seu conteúdo. Quanto mais nos aproximamos do fim do Medievo e dos alvores do Renascimento, mais a melancolia vai recuperando seu aspecto qualitativo, conforme tinha na Antiguidade, pois vai despontando a genialidade dos artistas e a capacidade criativa do sujeito por ele mesmo, independente de qualquer estância externa. Assim como a melancolia é colocada ao lado dos santos sob a designação de acedia, que é o desligamento das coisas mundanas e a elevação ao que é espiritual, à contemplação do ser divino, em uma fusão com a divindade que desobriga o corpo de qualquer vínculo com o que for terreno e mundano.

Tristezas, soluços, ais,
Eis a verdade da minha vida.
Quando eu partir, com certeza,
Levo minha alma ferida.

Então indagarei ansiosa
Quem é Deus?... Onde estará?

As profundas modificações psicológicas ocasionadas pelo Renascimento trazem a melancolia de volta plenamente imbuída do caráter de excelência e motivo de orgulho em virtude das produções que estimula no campo das artes e da filosofia. A quebra dos antigos paradigmas no campo da fé, pela Reforma Protestante, e no campo do conhecimento, através da Renascença, que davam ao homem todas as respostas, ocasiona a potencialidade da exploração dos limites do intelecto humano em diversos campos. Revolucionam-se as ciências, revolucionam-se as éticas religiosas, revoluciona-se o que o homem pensa dele mesmo e aquilo através do qual ele se define. Mas, simultaneamente a esta efervescência de criações culturais, o ser humano toma a consciência de que está terrivelmente só, e de que é senhor absoluto de seu destino, único árbitro de sua conduta, e este peso é demasiadamente opressor para que ele o carregue sem cambalear novamente entre dois pólos opostos, o furor criativo intercalado pela apatia. Em um primeiro momento, coloca-se o sentido da vida, da própria e de tudo o que há, em uma projeto qualquer, em uma realização ou em um desejo a ser realizado. Uma vez este realizado, esvazia-se de sentido e abandona-nos novamente no deserto da falta de certezas, da multiplicidade de possibilidades e perspectivas.

Mas afinal o que é melancolia? Freud designou-a como um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de autoestima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. A psiquiatria designa como um estado mórbido caracterizado pelo abatimento mental e físico que pode ser manifestação de vários problemas psiquiátricos, tendendo hoje a ser considerado mais como uma das fases da psicose maníaco-depressiva. Já segundo o dicionário Houaiss, podemos considerar a melancolia como um estado afetivo caracterizado por profunda tristeza e desencanto geral; depressão. Na derivação por extensão de sentido, melancolia é um sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação. Entretanto, eu prefiro a explicação simples, mas nem um pouco simplória, de Moacir Scliar: Melancolia é, antes de tudo, algo que faz parte da natureza, é uma condição existencial. Diferente da tristeza que é passageira; do tédio, que nos dá a sensação de que o tempo não passa; da depressão, termo moderno para uma condição clínica psicológica associada a fatores psicossociais, a melancolia, antiga companheira da humanidade, é tanto uma doença (como a depressão) como um estado de espírito (como a tristeza e o tédio). O sucesso de livros sobre o assunto, no século XVII na Europa e no começo do século XX no Brasil, são sintomas de grande identificação com o tema.
Porém, como já vimos acima, a melancolia não fica relegada apenas à esfera dos artistas, ela atinge qualquer pessoa. A única diferença é que a “melancolia de artífice ou melancolia de artista, é a melancolia criativa, que aparece nos homens de exceção e que, ao contrário da melancolia apática e desinteressada, vista como doença, faz da angústia o motor propulsor da criação e da genialidade, doando sentido ao absurdo da existência”.

Dia a dia a mesma coisa
Nesta vida tão maninha,
Horas inteiras passando
Filosofando sozinha.

Ainda segundo Marsílio Ficino – uma das figuras mais importantes do Renascimento Italiano, conhecido através de seu trabalho de tradutor de obras clássicas e autor – a melancolia, um dom divino e singular, influencia ambiguamente a profunda reflexão e o isolamento, a apatia e o furor criativo, o desinteresse e o brilhantismo intelectual. A saída apontada como paliativo contra as influências maléficas de Saturno era, justamente, se dedicar por inteiro às suas influências benéficas, como a criação artística, a reflexão filosófica, o estudo profundo, pois, apesar de ser o último e mais elevado dos planetas, também é ligado ao desterro nas profundezas do mundo, tanto eleva a alma quanto possibilita que ela mergulhe profundamente em autorreflexão. Portanto, um melancólico não tem outra alternativa senão resignar-se ao seu destino sob os mandos de Saturno, ser excelente e sofrer por isto.

Mágoas... Mágoas... Sempre mágoas
Enchendo meu coração.
Procuro alegrias na vida
E só encontro solidão.

Tristeza do Infinito
[Cruz e Sousa - 1861-1898]

Anda em mim, soturnamente,
uma tristeza ociosa,
sem objetivo, latente,
vaga, indecisa, medrosa.

Como ave torva e sem rumo,
ondula, vagueia, oscila
e sobe em nuvens de fumo
e na minh'alma se asila.

Uma tristeza que eu, mudo,
fico nela meditando
e meditando, por tudo
e em toda a parte sonhando.

Tristeza de não sei donde,
de não sei quando nem como...
flor mortal, que dentro esconde
sementes de um mago pomo.

Dessas tristezas incertas,
esparsas, indefinidas...
como almas vagas, desertas
no rumo eterno das vidas.

Tristeza sem causa forte,
diversa de outras tristezas,
nem da vida nem da morte
gerada nas correntezas...

Tristeza de outros espaços,
de outros céus, de outras esferas,
de outros límpidos abraços,
de outras castas primaveras.

Dessas tristezas que vagam
com volúpias tão sombrias
que as nossas almas alagam
de estranhas melancolias.

Dessas tristezas sem fundo,
sem origens prolongadas,
sem saudades deste mundo,
sem noites, sem alvoradas.

Que principiam no sonho
e acabam na Realidade,
através do mar tristonho
desta absurda Imensidade.

Certa tristeza indizível,
abstrata, como se fosse
a grande alma do Sensível
magoada, mística, doce.

Ah! tristeza imponderável,
abismo, mistério, aflito,
torturante, formidável...
ah! tristeza do Infinito!




Fontes consultadas para elaboração do texto: Wikipédia Enciclopédia e Dialética Brasil.

Trechos das poesias Hora Vazia e Trovas das Minhas Mágoas de Neuza Rodrigues Leonel Livro “Vozes do Coração”.


Nota: Artigo postado originalmente no blogue Palavreando, em 22/09/16.

29/04/2017

O prazer de ler

Por Janethe Fontes

"Basta observar o olhar perdido de adultos sem ter o que fazer durante horas, em vôos internacionais, ou, pior ainda, vendo filminhos para adolescentes no vídeo do avião, para ter certeza de que ler um livro é a melhor escolha para esses momentos. O passageiro desocupado é um chato: ri alto, chama a comissária de bordo a cada momento, toma mais bebida do que seria desejável, ou ronca alto, enquanto o leitor de livros atravessa a desagradável viagem placidamente, correndo incólume o risco alheio, podendo imaginar, a partir do seu universo de referências, o rosto e o jeito de cada personagem, e não sendo obrigado a engolir os atores que o diretor do filme escolheu para representá-las."

"O chato, na verdade, é o “sem-livro”. Mesmo assim, é freqüente tratar leitores como pessoas sem graça. Uma amiga conta que, durante sua adolescência, adorava ir ao sítio de um tio, no interior de São Paulo, e ler, calmamente, seu livrinho, enquanto a brisa movia silenciosamente a rede em que se refestelava e os pássaros faziam um coral único. Seus familiares, contudo, não se conformavam com a “chata” que preferia ler a jogar buraco e diziam que ela não gostava mesmo de “se divertir”, como se diversão fosse colocar o dez perto do valete e sonhar para que uma dama aparecesse, e não a leitura do seu livro, que a transportava para mundos maravilhosos."

Quando leio um texto como o de Jaime Pinsky (O elogio da ignorância), citado acima, fico pensando em quantas vezes também fui chamada de "chata" ou "metida", até mesmo "esquisita", porque em vez de ficar fazendo fofoca com minha vizinha de portão (nas minhas poucas horas vagas, claro!), ou mesmo inserida em grupos, com conversa fiada, nas horas de almoço na empresa, ficava/fico em um cantinho reservado para me dedicar a algo que simplesmente adoro: ler. Afinal a grande maioria das pessoas, infelizmente, não acha que ler seja uma forma de diversão, não entende o quanto é prazeroso "mergulhar nas asas da imaginação". Por isso, prefere ficar de "papo para o ar" ou de "papo furado" com qualquer um. Não que uma boa conversa também não seja prazerosa, mas, pelo amor de Deus (!), quantas vezes você de fato conseguiu obter uma "boa conversa" em ambientes como: consultórios, filas de banco ou mesmo com sua vizinha de portão? As conversas sempre giram em torno das mesmas coisas: vida dos outros vizinhos, vida dos artistas ou novelas (Puts! Ninguém merece). Obviamente, há momentos em que você não quer "nada com nada" está mesmo a fim de ficar de papo para o ar, tirar férias de tudo, sobretudo da correria do dia a dia e dessa agitação sem sentido que emana de dentro para fora de nosso corpo, mas, fala sério, você não pode viver a vida inteira assim. Jogar um dominó "de vez em quando" com os amigos ou qualquer outra coisa do tipo não deixa exatamente de ser divertido, mas cuidado com isso, cuidado com suas escolhas, pois em vez de "ampliar seus horizontes", e ler é um ótima forma de conseguir isso, você reduzirá cada vez mais o seu mundo, ficará restrito à superficialidade de conversas sem qualquer sentido e ainda por cima repetitivas. Pense nisso.




Texto postado originalmente no Blog Palavreando, em 2006 (É, é bem antiguinho mesmo!).

07/03/2017

#euvocêetodasnós


#euvocêetodasnós Não esqueçam: amanhã, nossa cor é o roxo.

Dia 08/03/17: Existe um movimento de PARADA das mulheres no mundo inteiro nesse dia. Uma espécie de greve das mulheres. Claro que a imensa maioria não terá o privilégio de poder cruzar os braços em protesto porque temos contas a pagar no fim do mês. De todo jeito, é possível apoiar sem parar também. Vamos juntas?

Sugerimos diversas formas de protestar no dia 8 de março:

- Parada total, no trabalho ou nas tarefas domésticas e nos papeis sociais como cuidadoras durante a jornada completa. (Isso é especialmente válido para mulheres que vivem com maridos, filhos, irmãos ou pais e assumem integralmente o serviço doméstico. Não cuidar da casa/cozinhar/limpar por um dia deve dar uma noção do trabalho que é)
- Parada de tempo parcial da produção/trabalho por uma ou duas horas
- Apitaço no horário do almoço (convide as colegas para as 12:30 ou no horário possível do seu local de trabalho para realizar um apitaço).
- Caso não possa parar em seu trabalho: use elementos roxos na vestimenta, como fitas ou qualquer elemento que decida usar.
- Coloquem panos roxos nos carros e nas casas.
- Boicote locais misóginos (faça todo dia)
- Não compre nada neste dia
- Bloqueie caminho e ruas
- Participem e organizem manifestações, piquetes e marchas nas suas cidades
- Instale mensagem automática de “fora do escritório” no e-mail e explique o porquê
- Participe do twitaço as 12:30 do dia 8 de março #8m



#DiaInternacionaldaMulher #8mbrasil #paradabrasileirademulheres #euparo


05/03/2017

Greve Internacional de Mulheres


No atual contexto de crise do Brasil, muitas mulheres possuem trabalhos precarizados, estão vulneráveis e não poderão paralisar suas atividades produtivas no 8M.


Existem muitas formas alternativas de aderir à Greve Internacional de Mulheres | Brasil. Nesse gif abaixo você pode ver algumas sugestões.


Quando a última árvore cair, derrubada; quando o último rio for envenenado; quando o último peixe for pescado, só então nos daremos conta de que dinheiro é coisa que não se come".

(Índios Amazônicos)

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