Por Janethe Fontes
O assunto é pertinente, porque, de uns
tempos para cá, parece reinar a ditadura da felicidade, onde temos de parecer
felizes o tempo inteiro, como se a felicidade fosse um estado permanente da
alma. É como se não houvesse dor, ansiedade, medo ou quaisquer outros
sentimentos tão comuns à alma humana.
O
mundo me assombra e intriga
E
eu fico perplexa ante a vida:
Nascer!...
Viver!... Existir!... Morrer!...
E não importa o grau de dor, ansiedade
ou inquietação que você esteja vivenciando, é preciso sempre apresentar uma
aura cintilante, emanar alegria, para não infectar os outros com suas chatices
e melancolias. É proibido não ser feliz. É proibido ficar triste. Por isso,
sorria. Sorria sempre. Sorria mesmo quando a dor ou inquietação contorcer suas
entranhas sem dó ou piedade. Afinal, ninguém deve saber do seu real estado de
espírito, não é mesmo? A platéia espera por seu espetáculo, a platéia cobra que
você seja feliz. A família, os amigos, a sociedade em geral e até você mesmo
cobra isso. É a ditadura da “felicidade permanente”, cujo princípio ignora por
completo que o sofrimento é um dos canais para o crescimento espiritual.
Tenho
momentos longos de fadiga
Ao
pressentir no coração uma ferida
De
tanto perquirir a razão do meu viver.
Mas o pior é que na ilusão de que é
possível atingir esse estado permanente de felicidade, muitos mergulham num
poço cada vez mais fundo de depressão, pois não compreendem que toda essa
ansiedade por ser feliz a qualquer custo, de qualquer forma, apenas as afasta
do que é verdadeiro, do que é real, e elas não conseguem desfrutar de pequenas
coisas, mas que trazem verdadeira alegria.
Além disso, o desespero em fugir à dor,
à realidade da vida, pode acarretar até mesmo em suicídio, explica o psicólogo
americano Steven Hayes em entrevista à revista Veja: “Muitos suicídios são um
último esforço para acabar com a própria dor. Em seis de cada dez casos os
suicidas deixam escrito, em bilhetes, que não agüentavam mais sofrer. Há uma
mensagem nisso tudo: evitar os sentimentos dolorosos é rejeitar a própria
vida. Aceitá-los como parte da existência é a melhor atitude.”
Viver
como eu vivo, como nós vivermos,
Tendo
dias de sol, de chuvas e trovoadas,
De
risos, lágrimas e sofrimento...
"As artimanhas que usamos para
escapar da aflição nos desviam de nossos objetivos de vida. E é por eles que
vale a pena viver", diz ainda o psicólogo Steven Hayes.
Nota: Poesia de Neuza
Rodrigues Leonel - Livro Vozes do Coração.
Obs. Final: Artigo postado no blogue
Palavreando, em 30/09/06: