Como já passei por algo parecido, resolvi compartilhar aqui o texto da Ju Lopes:
Cada vez mais a gente fala sobre relacionamentos abusivos,
mas o foco, quase sempre, são os amorosos, quando, na verdade, qualquer tipo de
relação pode ser abusiva. Sim, existem familiares abusivos, colegas de trabalho
abusivos e, também, amizades abusivas.
E é sobre amizades abusivas que quero falar hoje, já que, a essa altura do
campeonato, não era algo que eu imaginasse que pudesse viver.
Vivi esse tipo de situação quando era mais nova, de maneira muito mais
branda, e mesmo assim demorei anos pra entender e me recuperar, porque,
não se engane, quanto mais sutil é a coisa, mais demora pra que a gente caia na
real. E maior é o estrago.
Eu conhecia exatamente os “sinais”.Tinha absoluta consciência da
importância de escolher criteriosamente com quais pessoas dividir a minha vida,
porque amigo, pra mim, é sagrado. Amigo é a família que realmente importa, é
companheiro, parceiro de vida.
E, ainda sim, de alguma forma que não consigo compreender, eu não vi, não
percebi e sucumbi.
Porque a coisa é muito, mas muito sutil…
A pessoa parece realmente gostar e se preocupar com você. E
por achar que é preocupação, que ela quer o seu melhor, você começa a absorver
as “observações” feitas constantemente, sempre focadas no que “está faltando”,
no que você “precisa melhorar”, porque nada é bom o bastante.
Você não é bom o bastante.
E não importa quantas coisas incríveis você faça, quantas pessoas
reconheçam o seu valor, a sua capacidade ou qualquer outra coisa, ela sempre
vai, sutilmente, minimizar, desmerecer, desvalorizar.
E depois de um tempo, sobretudo quando trata-se de alguém que você admira,
você começa a acreditar. Acredita que não está à altura, que não é bom o
bastante, que não é capaz… E passa a se anular.
Quando chega nesse ponto, minha amiga, sua insegurança já está no topo, a
autoestima no chão e você, cheia de dúvidas e medos, simplesmente para de
acreditar em si mesma.
Mas não para por aí…
Sabe as suas conquistas? Parecem não existir. Sabe a tua vida, as tuas
histórias? Ela não tem o menor interesse. Sabe as tuas dores, aquelas que te
despedaçam? São invisíveis pra ela, que sempre está ali falando e descarregando
em você todos os problemas do mundo.
O que você faz? Escuta, pontua, apoia, porque amigo é, também, pra isso,
né? E como acha que ela é sua amiga, e faz parte do pacote entender as
limitações do outro, se engana dizendo que é falta de tempo, e se recusa a
enxergar.
Porque enxergar significa assumir a responsabilidade por tudo isso, por
ter permitido que isso acontecesse. Por ter sido fraco.
Eu já tinha entendido, meses atrás, o quanto aquela pessoa me fazia mal, o
quanto aquilo era tóxico. A minha intuição, aliás, gritava enlouquecidamente,
mas só consegui colocar um ponto final quando, já esgotada emocionalmente, ouvi
mais uma vez as coisas de sempre e tive uma crise no meio da rua.
Sabe quando você não consegue respirar? Quando você chora de soluçar até,
literalmente, cansar? Foi isso. E só aí consegui me afastar, sobretudo
emocionalmente.
No entanto, ainda questiono, como num post que escrevi aqui: que droga de carência é essa que faz com que a gente finja não
perceber determinadas coisas, sabe? O que é isso que faz com que a gente aceite
menos, muito menos, do que dá? Que medo é esse que nos faz manter na vida, como
protagonistas, aqueles que sequer deveriam estar por lá?
E me pergunto como, logo eu, tão firme pra tantas coisas, tão da turma do
“comigo não”, que não aceito ter o espaço invadido, o tom de voz alterado, que
não negocio respeito, me deixei levar…
Ainda não tenho a resposta, mas estou buscando-a, pra aprender de vez a
lição.
Fonte: Juro Valendo.