Por Janethe Fontes
Tendo em vista o sucesso da 2ª edição da Casa TPM, da
qual participaram feministas importantes como Clara
Averbuck, Nadia Lapa e Elisa Gargiulo, confesso que estava bastante curiosa
para participar/assistir a 3ª edição da Casa.
Não tive a oportunidade de
participar das casas anteriores, então, minha expectativa era realmente alta.
O local não decepcionou. O
Nacional Club é chique, bonito e bem localizado: no aristocrático bairro do
Pacaembu, com sede à Rua Angatuba, 703. É um dos clubes sociais mais
tradicionais de São Paulo, fundado na década de 50, para congregar a elite dos
homens de negócios de São Paulo. Ou seja, era um ‘clube dos bolinhas”. Por isso, só em saber que o local havia sido
“concebido” para que apenas homens o frequentasse, já torna o local “especial”
para o evento proporcionado pela revista TPM!
A organização e a equipe de atendimento também não
decepcionaram. Muito pelo contrário. Estão de
parabéns todos aqueles que organizaram e trabalharam no evento, em especial a
equipe de Relações Públicas: Luiza Nascimento e Monalisa Oliveira, que me
recepcionaram lá.
Porém, obviamente, o que mais interessava no evento eram
os conteúdos dos debates e de seus convidados/convidadas.
Logo à princípio, senti falta de nomes reconhecidos na
luta feminista, mas como não sou de tirar conclusões precipitadas, procurei
manter intacta minha expectativa.
No entanto, lamentavelmente, os debates não tiveram a
qualidade que uma revista como a TPM, que tem uma “aura” feminista, poderia
obter.
A culpabilização das mulheres pela sociedade machista em
que vivemos – sendo as próprias mulheres denominadas como machistas por vários
convidados e convidadas –, foi o que mais me incomodou.
A impressão que tive é que se estava afirmando que a
mulher é a única responsável pela educação dxs filhxs. Em pleno século XXI, a
maioria dxs convidadxs da Casa, parece ter esquecido que o pai, o homem, também
é responsável por suas crias! Além disso, ninguém é uma ostra, uma célula
isolada ou uma ilha perdida no mar, sem acesso a informações que veem de fora
do núcleo familiar. Esqueceram, portanto, que a sociedade, a escola e até a
mídia (que reforça uma série de estereótipos e até influencia os
comportamentos familiares) educam (ou deseducam)!
Mas algumas falas me provocaram muito mais que um
incômodo. Teve momentos que tive vontade de correr dali. Afirmações como a da
Elke Maravilha que ‘sociedades matriarcais, como os Estados Unidos (!!!), são
muito mais materialistas porque a mulher é materialista’, e tantas outras
coisas absurdas que foram faladas, realmente, me deixaram chocada!
Enfim, nos dois dias de comemoração à 3ª edição da Casa
TPM, apenas 2 dos debates foram realmente interessantes, em minha humilde
opinião: TÉTE-A-TÉTE: VAGINA, ESSA PERSEGUIDA e SER NEGRA NO BRASIL É F***,
sendo o da “Vagina, essa perseguida”, com Joana de Vilhena Novaes – doutora em
psicologia clínica e autora de dois livros (O
intolerável peso da feiura. Sobre as mulheres e seus corpos e Com que corpo eu vou? Sociabilidade e usos
do corpo nas mulheres das camadas altas e populares), o mais interessante,
já que ela tratou com a naturalidade devida um assunto que ainda é tabu para
muitas pessoas. Nota: Não posso dizer o mesmo quanto ao outro convidado para o
debate: Fausto Fawcett, já que ele deu coro a alguns preconceitos que, mais uma
vez, me chocaram.
Com tudo isso, espero que a revista TPM, que sempre teve
essa “aura” feminista, e é contra clichês femininos e “velhos estereótipos, que
cismam em se reinventar desde o tempo de nossas avós...”, que diz que é contra “qualquer
tentativa de enquadrar a mulher em um padrão, cercar seu desejo e diminuir suas
possibilidades”, não esteja mudando de foco e cedendo às velhas formas
publicitárias de outras revistas, que tanto critica; corretamente, claro!!
Nota: O evento ocorreu nos dia 04 e 05/10/14.