12/10/2014

3ª edição da Casa TPM – Reles impressões (?)

Por Janethe Fontes


Tendo em vista o sucesso da 2ª edição da Casa TPM, da qual participaram feministas importantes como Clara Averbuck, Nadia Lapa e Elisa Gargiulo, confesso que estava bastante curiosa para participar/assistir a 3ª edição da Casa.

Não tive a oportunidade de participar das casas anteriores, então, minha expectativa era realmente alta.

O local não decepcionou. O Nacional Club é chique, bonito e bem localizado: no aristocrático bairro do Pacaembu, com sede à Rua Angatuba, 703. É um dos clubes sociais mais tradicionais de São Paulo, fundado na década de 50, para congregar a elite dos homens de negócios de São Paulo. Ou seja, era um ‘clube dos bolinhas”.  Por isso, só em saber que o local havia sido “concebido” para que apenas homens o frequentasse, já torna o local “especial” para o evento proporcionado pela revista TPM!

A organização e a equipe de atendimento também não decepcionaram. Muito pelo contrário. Estão de parabéns todos aqueles que organizaram e trabalharam no evento, em especial a equipe de Relações Públicas: Luiza Nascimento e Monalisa Oliveira, que me recepcionaram lá.

Porém, obviamente, o que mais interessava no evento eram os conteúdos dos debates e de seus convidados/convidadas.

Logo à princípio, senti falta de nomes reconhecidos na luta feminista, mas como não sou de tirar conclusões precipitadas, procurei manter intacta minha expectativa.

No entanto, lamentavelmente, os debates não tiveram a qualidade que uma revista como a TPM, que tem uma “aura” feminista, poderia obter.

A culpabilização das mulheres pela sociedade machista em que vivemos – sendo as próprias mulheres denominadas como machistas por vários convidados e convidadas –, foi o que mais me incomodou.

A impressão que tive é que se estava afirmando que a mulher é a única responsável pela educação dxs filhxs. Em pleno século XXI, a maioria dxs convidadxs da Casa, parece ter esquecido que o pai, o homem, também é responsável por suas crias! Além disso, ninguém é uma ostra, uma célula isolada ou uma ilha perdida no mar, sem acesso a informações que veem de fora do núcleo familiar. Esqueceram, portanto, que a sociedade, a escola e até a mídia (que reforça uma série de estereótipos e até influencia os comportamentos familiares) educam (ou deseducam)!

Mas algumas falas me provocaram muito mais que um incômodo. Teve momentos que tive vontade de correr dali. Afirmações como a da Elke Maravilha que ‘sociedades matriarcais, como os Estados Unidos (!!!), são muito mais materialistas porque a mulher é materialista’, e tantas outras coisas absurdas que foram faladas, realmente, me deixaram chocada!

Enfim, nos dois dias de comemoração à 3ª edição da Casa TPM, apenas 2 dos debates foram realmente interessantes, em minha humilde opinião: TÉTE-A-TÉTE: VAGINA, ESSA PERSEGUIDA e SER NEGRA NO BRASIL É F***, sendo o da “Vagina, essa perseguida”, com Joana de Vilhena Novaes – doutora em psicologia clínica e autora de dois livros (O intolerável peso da feiura. Sobre as mulheres e seus corpos e Com que corpo eu vou? Sociabilidade e usos do corpo nas mulheres das camadas altas e populares), o mais interessante, já que ela tratou com a naturalidade devida um assunto que ainda é tabu para muitas pessoas. Nota: Não posso dizer o mesmo quanto ao outro convidado para o debate: Fausto Fawcett, já que ele deu coro a alguns preconceitos que, mais uma vez, me chocaram.

Com tudo isso, espero que a revista TPM, que sempre teve essa “aura” feminista, e é contra clichês femininos e “velhos estereótipos, que cismam em se reinventar desde o tempo de nossas avós...”, que diz que é contra “qualquer tentativa de enquadrar a mulher em um padrão, cercar seu desejo e diminuir suas possibilidades”, não esteja mudando de foco e cedendo às velhas formas publicitárias de outras revistas, que tanto critica; corretamente, claro!!



Nota: O evento ocorreu nos dia 04 e 05/10/14.

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Quando a última árvore cair, derrubada; quando o último rio for envenenado; quando o último peixe for pescado, só então nos daremos conta de que dinheiro é coisa que não se come".

(Índios Amazônicos)

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