Por Ivan Bittencourt
Vamos lá, quantos livros existem na sua estante hoje? Quantos destes são
de livros nacionais? 10% ou 20% talvez? Agora retire os clássicos. Quantos
sobram? E por fim, destes que sobraram, quantos você efetivamente comprou?
A realidade da literatura brasileira contemporânea é triste. E o pior de
tudo é que ela é cíclica: as editoras não investem em autores nacionais (muitas
das grandes trabalham exclusivamente com livros estrangeiros), as livrarias
mantem as obras brasucas em cantinhos esquecidos e os leitores, simplesmente
não se interessam por comprar e ler livros nacionais.
Frase mais lida quando o assunto é literatura
nacional:
"É, confesso que não tenho lido muita
literatura nacional ultimamente, mas reconheço que é importante!"
Bem, editoras e livrarias são, antes de tudo, empresas e, obviamente,
buscam o lucro. Oferecem onde há demanda. Porém, se eles não investem nos
autores nacionais, os leitores não conseguem se interessar e gerar demanda
suficiente para que este seja um negócio lucrativo. Os livros que se sobressaem
em geral são os que começaram pela internet com um marketing direto
autor-consumidor.
Resultado: Livrarias não
vendem porque as pessoas não compram e leitores não compram por que as
livrarias não vendem!
Só existe uma única forma de causar uma mudança no quadro da literatura
nacional: algum dos três grupos precisa começar a 'apostar' e investir seu
tempo e dinheiro em uma mudança no ciclo. Seria lindo se de repente todas as
editoras começassem a produzir livros nacionais e que as livrarias começasse a
ofertá-las aos montes, porém, sabemos que isso não vai acontecer tão cedo e tão
espontaneamente.
Esperar um incentivo realmente válido do governo é o mesmo que esperar o
papai noel entrar pela janela (porque nossas chaminés só servem pra churrasco
mesmo).
Qual a solução que está nas
nossas mãos então? Começar a consumir livros nacionais.
Imagine se as livrarias veem os livros nacionais se esgotarem das
prateleiras e pessoas pedindo por mais. Livrarias vão cobrar das editoras e
estas terão que fazer tiragens maiores para suprir a demanda. Tiragens maiores
barateiam o preço e tornam o livro mais acessível.
É possível? Claro, mas é um movimento que precisa começar por cada um de
nós!
Por isso preparei este artigo com 8 motivos para você começar a comprar
e ler livros nacionais.
1. Português Fluente
Apesar de a maioria dos livros serem traduzidos brilhantemente, com uma
linguagem impecável, nada supera a expressão do nativo. Por que?
A beleza de um autor está em brincar com as palavras e conseguir,
através delas, traduzir algo que está em sua mente complexa. Cada língua
apresenta uma série interminável de elementos diferentes, truques e
possibilidades, que te permitem dizer uma mesma coisa de infinitas maneiras. Ou
não dizer, e ainda assim conseguir fazer-se entendido. A tradução, por mais
brilhante que seja, sempre irá empobrecer um pouquinho a obra.
Para ficar mais claro, basta você comparar um filme estrangeiro dublado
e um filme nacional. Por mais brilhante que seja a dublagem, o nacional sempre
consegue passar algo mais.
Ler livros nacionais é essencial para quem almeja ser escritor, mas
principalmente para aqueles que querem de fato tornarem-se experts em seu
próprio idioma (o que deveria englobar todo mundo, não é verdade?).
2. Livros mais baratos
O preço do livro está diretamente relacionado a duas coisas: volume da
produção, impostos e a lei de oferta e demanda.
Imaginem o último livro de uma saga que arrastou quase o mundo todo
consigo? Obviamente ele será mais caro, mesmo sendo produzido em uma grande
escala.
Este não é o caso de nenhum livro nacional. Mesmo os nossos livros de
maior sucesso, raramente passam da casa do milhão, ou seja, em termos de
demanda o óbvio, economicamente falando, era ter livros o mais barato possível,
para estimular a venda.
Os impostos (por incrível que pareça) também não contribuem
negativamente para o preço dos livros. O processo produtivo de livros é livre
de impostos em quase todo o processo de produção.
Abaixo o trechinho da nossa constituição federal que fala sobre isso:
DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal
e aos Municípios:
VI - instituir impostos sobre:
d) livros, jornais, periódicos e o papel
destinado a sua impressão.
Ou seja, o fator realmente determinante para o preço dos livros é o
volume da tiragem. Cada livro necessita de um determinada quantidade fixa de
serviços de edição. Uma grande tiragem dilui este valor em milhões de
exemplares, tornando-o mínimo.
A maior parte dos livros nacionais são publicados em tiragens mínimas e
só o são por que há pouquíssima 'esperança' de que algum autor brasileiro
realmente faça sucesso e a demanda é baixíssima.
3. Mais investimento, mais
autores, mais leitores
Quanto mais você compra livro nacional, mais as editoras vão perceber
que existe sim demanda para ler livros nacionais. Mais as pessoas vão perceber
que os nossos autores em nada perdem para os estrangeiros. Logo, investir em
autores nacionais será uma opção tão lucrativa quanto comprar os direitos de
uma obra gringa.
Com as editoras e livrarias investindo mais em literatura nacional, a
carreira de autor se tornará mais atrativa e logo vão existir ainda mais
pessoas produzindo ainda mais livros. Mais livros geram mais opções e isso
movimenta ainda mais o mercado editorial nacional.
E por fim, tendo mais autores nacionais o acesso a eles se tornaria bem
mais fácil. Mais escritores poderão visitar escolas e mais crianças vão se
interessar por ler.
(quem já teve contato com o autor de um livro durante a época escola,
sabe bem do que eu estou falando).
4. Cultura nacional
Você conhece o Brasil? Seus 26 estados, sua capital, seus rios, suas
praias, seus trejeitos, suas expressões culturais, suas expressões, seu
jeito de ser, suas cidades pequenas, sua culinária... Provavelmente você
conhece só uma pequena parte disso tudo.
O Brasil é um país que tem uma riqueza muito grande e é bacana ver, por
exemplo, histórias malucas acontecendo no nosso território.
Vampiros invadindo a Amazônia, seres extraterrestres aterrizando em
pleno Pelourinho ou um detetive que precisa driblar o trânsito de São Paulo
pois tem apenas meia hora para salvar uma vítima.
Se ler é viajar, talvez seja a hora de conhecermos um pouco mais o nosso
próprio país.
5. Exportação de cultura
Em geral, os livros são traduzidos para outras línguas somente após
atingirem algum relativo sucesso no seu país de origem.
Se você passa a comprar e ler mais livros nacionais, estes livros passam
a ser considerados livros de "relativo sucesso" e a chance de
estrangeiros comprarem os direitos de tradução são bem maiores. (vide Spohr,
Dracoon e outros).
Imagine vários livros de autores brasileiros nas livrarias do mundo,
mostrando para eles um pouco mais do que, verdadeiramente, é o país (sem
aqueles clichês de praia, futebol e etc), do mesmo jeito que descobrimos mais
sobre o Afeganistão com Khaled Hosseini, sobre a Turquia com Orhan Pamuk e
sobre a Espanha com Zafón.
Além, é claro, de trazer investimentos estrangeiros para cá, gerando um
ciclo virtuoso: editoras investindo em autores nacionais já pensando em
comercializar os direitos de publicação mundo afora.
6. Um oceano azul de
possibilidades
A literatura nacional é pouquíssimo explorada pela maioria das pessoas.
Há muita coisa nova, muita coisa legal, muita coisa diferente escrita por
brasileiros e que estão lá, ávidas para serem descobertas.
E começar a entrar neste novo mundo e ver tudo o que ele pode oferecer
só depende de uma coisa: ir à uma livraria (especialmente as lojas online da
Submarino, Saraiva, Cultura e Fnac), entrar na seção de nacionais e procurar
algum que te atraia. Tenho certeza que encontrará.
Então eu tenho que parar de ler livros estrangeiros e só ler
nacionais?
Claro que não! Eu mesmo adoro Zafon, Rowling, Camus, Brooks, Zusak e
outros fantásticos escritores estrangeiros e os leio com frequência.
Mas que tal balancear um pouco a sua estante? Que tal 50% dela ser
composta por livros nacionais, majoritariamente contemporâneos? É um número
razoável. Basta se lembrar que a cada livro gringo comprado, você precisa
comprar um livro nacional também.
Se não quiser arriscar, basta dar uma passeada pelos blogs que você
encontrar resenhas de livros nacionais e pode ir acrescentando na sua lista de
desejos.
Gandhi dizia, 'seja a mudança que você quer ver no mundo'.
Que tal VOCÊ ser a mudança que queremos ver no Brasil? Que tal um país
de mais leitores, mais autores e com livros mais baratos?
Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas
eu não sou o único. ;) John Lennon
Nota: Texto publicado originalmente no blog Novas Memórias e
gentilmente autorizado pelo autor para publicação aqui.

Uma coisa que eu ao quando estou lendo um livro nacional, é ir reconhecendo os locais narrados na trama. Quando calha do enredo envolver uma cidade que eu conheça, me sinto em casa e mais dentro do enredo. Não sei quantos nacionais eu tenho, mas são bem menos do que eu gostaria, e por incrível que pareça não tenho tantos clássicos, tenho mais contemporâneos e muitos infantis.
ResponderExcluirBjs, Rose.