Reflexão para o Dia dos Pais
Por
Janethe Fontes
Dias
atrás, eu li uma reportagem
sobre o caso de um jovem solteiro que resolveu cuidar sozinho de seu bebê de 2 meses e fiquei pensando, após ler o
artigo e olhar rapidamente os comentários, que é tão raro um homem assumir sua
“responsabilidade” como pai que, quando o faz, é tratado como um herói(!).
Difícil entender como o fato de um homem assumir seu
papel junto à sua prole (sim, porque entendo que ser “pai” é justamente tomar o
espaço e a responsabilidade que lhe compete junto ao filho), pode causar tanto
espanto que lhe mereça até uma medalha por sua ação tão “especial”. E é difícil
entender porque sabemos que milhões de mulheres fazem isso e nem por isso são
consideradas heroínas. Aliás, muito pelo contrário disso! Para uma sociedade
machista como a nossa é obrigação da mulher, e apenas da mulher, a criação dos
filhos. Ao homem cabe, apenas, a parte financeira, ou seja, se o camarada pagar
a pensão alimentícia já estará cumprindo suas “obrigações de pai”.
A reportagem cita que depois de um relacionamento curto, César
descobriu que seria pai no final de 2012. “A mãe não tinha condições de ficar
com o Heitor por questões particulares, e então eu teria que ficar com a guarda
e a total responsabilidade sobre ele” contou” e isso foi o suficiente para render
uma enxovalhada de comentários onde a mãe foi duramente criticada, pela sua atitude
“horrorosa” de abrir mão do filho, e o pai elevado às alturas, pela atitude
“espantosa” de assumi-lo!
Uma pessoa chegou a comentar que: “Independente de qualquer motivo, Mãe
é mãe e jamais abandona seu filho! Nem um animal abandona seu filho, quem dirá
um ser humano! Essa coisa nem de mãe merece ser chamada!” Nesse comentário, a pessoa diz que nem
um animal abandona seu filho, mas não lembrou que muitos homens fazem isso e
nem por isso são massacrados pela sociedade. Longe disso!! E outra jovem disse que para “Uma
mulher criar o filho sozinha é muito mais fácil, esse rapaz merece o parabéns
sim! Não é qualquer homem que faz isso!” e eu fiquei me perguntando o que faz alguém
pensar assim. Será que essa pessoa pensa que pelo simples fato de ser mulher tem-se
algum poder especial? Eu não tenho! Ou será que ela pensa que a mulher precisa
de menos horas de sono que o homem e por isso ficar a noite toda acordada não
faz qualquer diferença ao sexo feminino? Eu desconheço completamente isso!!
Enfim,
creio que se a reportagem foi feita para homenagear o dia dos pais, como alguns
defenderam, talvez o mais correto seria mostrar que assumir a responsabilidade
pelo filho é uma obrigação tanto do pai, quanto da mãe ou de qualquer outra
pessoa que se propor a “criar” uma criança. Mostrar que o homem deve sim tomar o lugar que lhe cabe e participar ativamente na
criação daquelx que ele também gerou.
E, aos pais que agem assim, não há
necessidade de render homenagem como se isso fosse a coisa mais extraordinária
do mundo, afinal isso devia ser visto como algo normal, comum. E o fato de não
ser visto desta forma, já demonstra o quanto a nossa sociedade é machista.
Mas eu ainda tenho fé que um dia pais
“responsáveis” serão vistos como uma normalidade, e não como heróis por serem
raros!
FELIZ
DIA DOS PAIS a todos aqueles que, como meu marido, não são especiais porque
assumiram seus papéis, mas sim porque sabem que isso é o que devem fazer
enquanto PAIS de verdade!
FELIZ
DIA DOS PAIS também às mães ou quaisquer outras pessoas que, por algum motivo, ou vários, assumiram sozinhas a criação do(s) filho(s)!
FELIZ DIA DOS PAIS a qualquer pessoa que assumiu o papel de pai de uma criança, independentemente de sua orientação sexual!
FELIZ DIA DOS PAIS a qualquer pessoa que assumiu o papel de pai de uma criança, independentemente de sua orientação sexual!
Obs.:
Gostaria de deixar bem claro que ao citar o caso acima, eu não quis, de maneira
alguma, tecer crítica ao rapaz; muito pelo contrário! Minha crítica é dirigida
à reportagem que colocou o caso como se fosse algo muito espantoso, a começar
pelo título da reportagem: ‘Pai solteiro', universitário do Sul do RJ cuida
sozinho de bebê de 2 meses. Imaginem
se a reportagem fosse: “‘Mãe solteira',
universitária do Sul do RJ cuida sozinha de bebê de 2 meses”? Será que teria
causado algum espanto, admiração e defesa? ...Com certeza, não.